No arame...sem rede

 

Os Wirehair entregam-se de alma e coração, sem qualquer reserva ou reticência. Por isso fazem amigos para toda a vida, independentemente da sua idade ou estilo de vida. Entregue-se também, e sem rede, a esta raça pelo de arame, uma das relíquias mais preciosas dos norte-americanos. 

 

Origem 

   Congratulam-se os norte-americanos desta raça ser uma das suas relíquias nacionais, a qual, a par das raças American Shorthair e Main Coon, forma um dos vértices de uma preciosa trindade felina com origem exclusiva nos Estados Unidos da América. Razão mais do que suficiente para zelarem, não apenas pela saúde e melhoria da própria raça como por uma boa documentação acerca das suas origens e cruzamentos. A American Wirehair, raça que começa agora a despertar o interesse de franceses e japoneses, teve origem numa mutação espontânea que, quis o acaso, captou a atenção de Nathan Mosher, dono da quinta Council Rock Farm, em Verona, a norte do estado de Nova Iorque, em cujo celeiro foi descoberta uma ninhada de seis crias, de onde sobressaía um macho muito peculiar, não obstante serem todos fruto do cruzamento de dois gatos domésticos comuns de Nathan: Bootsie e Fluffy. A peculiaridade incidia toda na pelagem do gatinho e mesmo nos seus bigodes, ambos eriçados, entre o encaracolado e o encrespado. Ainda assim, o pelo era suave ao toque e em tudo diferente do pelo curto normalíssimo tanto dos progenitores como dos irmãos. Uma espécie de pelo de arame inesperadamente sedoso, e impossível de esticar. Decorria o ano de 1966, e o dono dos gatos não tardou a partilhar a sua descoberta e o seu entusiasmo com Joan OShea, sua vizinha e uma amante e criadora de gatos. Foi precisamente Joan quem, perante o original pelo eriçado, tomou a seu cargo a tarefa de tentar reproduzir a mutação. Council Rock Farm Adam de Hi-Fi foi o pomposo e muito composto nome com que Joan batizou o gato que viria a ser o pai de uma nova raça. A seu tempo, Council Rock foi cruzado com uma fêmea proveniente, também ela, da quinta de Nathan, e o resultado foi promissor: mais crias de pelo encrespado. Acredita-se que também a progenitora — segundo algumas fontes, uma provável irmã de Council Rock —, pudesse ser portadora do gene mutante. Estava dado o pontapé de saída para uma partida que, nascida da sorte, tem muito de engenho genético e persistência.

 

Para ele não há estranhos, apenas pessoas com quem gosta de se relacionar

 

História

   Um segundo cruzamento de Council Rock, desta feita com uma outra fêmea, volta a produzir crias pelo de arame impondo como dominante o 

 

gene responsável pela mutação natural. Apostada em seguir em frente e tendo em vista o registo desta nova raça, restava apurar a originalidade deste pelo e Joan OShea queria respostas sérias. Por isso encaminhou amostras de pelo para análise ao cuidado de dois reconhecidos geneticistas, A. G. Searle e Roy Robinson. Na volta do correio, a resposta não podia ser mais animadora. Tratava-se de uma mutação única, que em nada se relacionava com outras raças de pelo encaracolado, como o Cornish ou os Devon Rex. Neste novo caso, as três camadas de pelo dos animais era revirada. No que refere ao tipo, estes gatos tinham grande afinidade com o American Shorthair, acabando por ser esta a raça utilizada no programa reprodutivo do American Wirehair, assim passou a ser designada esta nova raça made in USA. Entre estas duas raças uma grande diferença se impõe: o pelo eriçado desta última. O American Wirehair foi registado em 1967 e entrou pela primeira vez em competição em 1978. Datas que se aproximam no tempo e não deixam perceber o árduo caminho de todos aqueles que se empenharam, com determinação, no processo de criar e manter a nova raça, a qual tem também uma dívida de gratidão para com o American Shortair, única raça, até hoje, a ser aceite para cruzamentos e que, numa fase inicial, foi crucial para injetar sangue novo aos primeiros pelos de arame. O standard da raça ficou assim, bastante colado ao da raça American Shorthair, o que implicou algumas mudanças físicas, no que concerne ao formato da cabeça e olhos e mesmo à implantação de olhos e orelhas. Imperioso é que todos os pelos do animal sejam dobrados, enrolados ou encrespados. Conforme a predominância de uns ou de outros, o aspeto geral dos gatos pode resultar num visual encaracolado ou eriçado. Um dado a reter é o fato de o gene não ter uma pura dominância, ou seja, mesmo em cruzamentos de arame com arame, podem sempre nascer crias sem esta mutação de pelo, estando a probabilidade avaliada em 50% de hipóteses. Em nenhuma outra parte do mundo foi vista ou identificada igual mutação.

 

Apesar de ser um companheiro dedicado, aprecia a sua independência

 

Morfologia 

   O American Wirehair é um gato sólido e bem musculado, de proporções equilibradas e médio porte. O pelo é algo rijo, denso e encrespado, sendo esta a sua imagem de marca, que se contemmanifesta inclusive nos bigodes e que é muitas vezes descrita como lã de aço, em função do aspeto e do tato. Tal como esta matéria inorgânica, também o pelo do Wirehair retoma o seu obstinado lugar após cada carícia. A pelagem ideal é de comprimento médio, uniforme e encrespada em toda a superfície corporal, mas não é raro encontrar exemplares com pelo não tão denso ou encrespado quanto o desejado e mais longo ou curto do que os exemplares mais cobiçados. As marcas ruivas que coloriam o corpo do pai da raça, são uma das variantes de cor, mas qualquer outra cor ou padrão são admissíveis, o que enriquece o potencial estético da raça, a qual, quase ironicamente se enfeita frequentemente com tons e padrões inéditos e difíceis de explicar. Não obstante ter uma cabeça mais comprida do que larga, a sua expressão é doce e simpática. Todos os traços são bem proporcionados, numa contida bitola, com exceção para os olhos, eventualmente maiores do que o previsível. Estes são redondos e bem separados um do outro. As orelhas retomam a medida do meio e arredondam- se nas pontas. Entre si, devem ter o dobro da distância que separa os olhos. Os traços físicos da raça aprimoram-se com a idade adulta, a qual atingem entre os três e os quatro anos. 

 

Temperamento

   Comece-se pelo mais importante: são excelentes animais de companhia, para qualquer ambiente familiar, para qualquer idade. O Wirehair está tão interessado e é tão feliz na discreta e pacífica companhia dos mais velhos, como no meio da euforia dos mais novos. É tida como uma das raças mais adaptáveis, mais simpáticas e amigáveis. É de fácil lidação e muito boa onda. Para estes gatos não há estranhos, apenas colos ou amizades para explorar, uma vez que são completamente orientados para a relação com os humanos, embora nem todos sejam fãs de colo. Têm um temperamento calmo e tolerante mas mantêm a aptidão para a brincadeira e o instinto para a caça pela vida fora. São, por norma, gatos inteligentes, curiosos e interessados em tudo aquilo que os rodeia mas que prezam, ainda assim, a sua independência. Quase sem exceção, são gatos amistosos, afetivos, carinhosos, brincalhões, com apreço por crianças e devotos. Num capítulo dedicado ao caráter, uma ressalva para as fêmeas. Elas tendem a ser mais complexas, podendo entrar em períodos de silêncio, em que se mostram mais apagadas, quase indiferentes, o que as torna um desafio ainda maior e mais interessante. 

 

 

O pelo de arame é o traço distintivo desta raça que teve origem numa mutação espontânea

 

                                                                                                                       Prós e Contras 

   Seja por questões climatéricas ou de stress, há registo de casos de queda da pelagem, mas são considerados, pelos criadores, fáceis de reproduzir, de tratar e de se lidar, e saudáveis. A tudo isto não é indiferente o seu modo afetuoso e as suas maneiras reservadas, dignas, por vezes, de uma qualquer escola de etiqueta. São tidos como gatos de interior mas convém não esquecer que são gatos e que a par de uma boa alimentação e da óbvia necessidade de atenção e carinho, há necessidades básicas do ponto de vista de qualquer felino, e limar as unhas é uma delas. Superfícies rugosas, ou mesmo postes para arranharem são uma real necessidade. Em relação a esta raça específica, há que ter cuidados acrescidos em relação à pele, já que, talvez devido à sua pelagem tão peculiar, ela se revela particularmente sensível aos elementos do exterior, como a temperatura, havendo ainda casos registados de Wirehair com alergias. O que quer dizer que o banho tem de ser um hábito regular, bem como a escovagem do pelo, com a qual tendem a deliciar-se. No caso desta raça, cuidar do pelo é uma necessidade básica, já que têm tendência a ter uma pele gordurosa, facto que está igualmente relacionada com maior produção de uma cera escura nos ouvidos, que deve ser removida amiúde. Amor, carinho, brinquedos e brincadeira, atenção e dedicação fazem parte da dieta de qualquer animal doméstico e dela depende a sua longevidade e felicidade. À parte, talvez, uma maior preocupação com a limpeza e higiene do pelo, o American Wirehair é um companheiro fantástico que começa a alargar o seu clube de fãs, que há já algum tempo ultrapassou as fronteiras dos EUA.