Cola-se aos donos, ao exercício físico, aos afectos e à caça. Foi por tudo isto que se tornou na raça de eleição das tribos magiares que fundariam o reino da Hungria.
Origem
Pinturas rupestres com mil anos dão conta da presença destes cães em regiões da actual Hungria. Os antepassados do Vizsla eram os predilectos das tribos magiares, fundadoras, estas, daquele país do leste da Europa. Imprescindíveis q ue eram na caça, onde desde sempre se revelaram exímios, eles surgem nalgumas dessas seculares expressões artísticas onde ladeiam a figura do caçador, a par do falcão. A sua extraordinária capacidade de apontarem a caça definiu desde logo o nome da raça, Vizsla, que em húngaro significa pointer, cão que aponta, muito embora seja igualmente excelente na recolha da caça, quer em terra quer na água. Não apenas isso como são ainda excelentes cães de guarda, o que muito importava para os nómadas magiares. Acredita-se que possam descender de várias raças de cães pointer, entre eles o Hound da Transilvânia e mesmo o Cão Amarelo Turco, já extinto. Porém, dá-se mais crédito à tese que defende ser o descendente da referida linhagem de cães que acompanhavam os magiares, quando nem sequer se tinha formado o reino húngaro. A migração magiar terá depois determinado alguns cruzamentos com raças dos locais por onde as tribos passavam ou se fixavam. A primeira referência escrita, todavia, foi registada no Illustrated Vienna Chronicle, em 1357, por decreto real. Desde então, muito mais há a dizer sobre a raça.
Em português, o nome da raça, pronuncia-se Vichela
História
A ocupação turca, a revolução húngara e a I Guerra Mundial colocaram à prova a capacidade de sobrevivência desta protegida raça local. Porém, com o flagelo da II Guerra Mundial e do pós-guerra, altura em que Hungria ficou sob a égide comunista do domínio russo, o Vizsla, até então o cão das elites, esteve mais perto da extinção. A raça foi salva por um grupo de temerários aventureiros que literalmente contrabandearam alguns animais para fora das fronteiras húngaras, os quais foram depois conduzidos até aos EUA e à vizinha Áustria, onde conheceriam melhores dias. Ao sucesso da reabilitaçã o da raça — que teria por base apenas cerca de 12 animais puros —, não é alheio o facto de durante séculos, senhores da guerra e aristocratas, assumidos devotos da raça, terem mantido puro o sangue do Vizsla, pelo qual sempre velaram com um fervor quase religioso, expresso ao longo dos tempos em cartas e registos vários, onde eram exaltados os seus dotes para a caça. Em 1960, o Vizsla era a 115.ª raça de cães a ser reconhecida pelo American Kennel Club, seguindo-se, na década de 70, o reconhecimento do Kennel Club britânico. Tinham voltado os anos de glória e o apreço por esta raça, a qual tem indiscutíveis semelhanças com outros cães pointer: o Weimaraner e o Pointer Alemão de pêlo curto e ainda com a variante Vizsla de pêlo eriçado. Há ainda uma outra variante do Vizsla, bem mais rara, de pêlo comprido. Hoje, mantém intactas as qualidades pelas quais sempre foi estimado: o faro, a capacidade de apontar a caça, ser bom retreiver, versátil, muito resistente ao frio, inteligente e arguto, fácil de treinar e hábil a trabalhar, seja em campo aberto, em zonas de mata ou na água. É ainda uma das mais pequenas raças de cão pointer-retriever.
É conhecido como cão velcro, por estar sempre colado aos donos
Morfologia
Um dos aspectos mais impressionantes do Vizsla é o seu manto acobreado, por vezes da cor da ferrugem, e por norma uniforme. Por ser curto, conforme a incidência da luz, o pêlo brilha de diferentes formas, como a seda, mas apresenta-se suave ao tacto, como o veludo. Um luxuoso manto que cobre um corpo sólido de porte médio, que em altura pouco difere de machos para fêmeas (entre 58 e 66 cm, e entre 54 e 60 cm, respectivamente), e cujo peso vai dos 20 aos 30 quilos, para os primeiros, e dos 18 aos 25, para as segundas. Na sua descrição surge um outro V, pois é essa a forma das orelhas, longas e finas, que pendem rente às faces, entrando em harmonia com o focinho, forte, os olhos, de corte oval, e o pescoço mediano. Este desemboca num peito largo e vigoroso numa antevisão da robustez dos membros. A cauda, de inserção baixa, é grossa, mas vai-se estreitando, actuando no mato como uma foice. É o equilibrado remate da linha do dorso, também ele bastante musculado, e ligeiramente mais comprido do que alto. Ainda que robusto, é um animal elegante, leve e ágil.
Temperamento
Se a pelagem é de cobre, o seu coração é de ouro. Famoso pelo seu instinto caçador, o Vizsla não se fica atrás enquanto companheiro, cão de família e de guarda, graças a alguns inequívocos traços de carácter: é vivo, enérgico, afectuoso, sensível, corajoso, temerário, possessivo, leal, tem modos gentis e um aguçado instinto protector. Cria fácil e rapidamente laços afectivos com toda a família — são bastante fiáveis e brincalhões com crianças —, sendo conhecido como cão velcro, porque, está bom de ver, não larga aqueles que mais ama. É um cão calmo, silencioso, mas muito expressivo, com capacidade para chorar quando se sente negligenciado. O treino, bem recebido pelo ávido Vizsla, deve ser imposto de forma cordial, sem reprimendas físicas nem comandos duros ou rudes, os quais poderiam causar danos no seu feitio sensível e dócil, mas deve ser firme e consistente, para que, perante um dono maleável, não se tornem teimosos e insubordinados. Com calma, ele entenderá tudo o que se pretende e mostrar-se-á ansioso por agradar ao dono. A sua inteligência e dinamismo requerem estímulo mental constante, bem como muito exercício físico. À falta deste, podem tornar-se destrutivos ou mesmo neuróticos.
O Vizsla era a jóia da coroa das tribos magiares
Prós e Contras
Não é uma raça para todos pelo que começamos pelos contras:
— Necessita de muito exercício físico por dia, estímulos mentais variados e, enquanto jovens, requerem treino diário e consistente. Só assim se manterão saudáveis, equilibrados e felizes. Se o dono for adepto de jogging, este problema está resolvido.
— Não é um cão de apartamento.
— Vive bem com gatos, desde que tenha sido criado desde cachorro no meio deles, mas, devido ao instinto caçador, não é fiável perto de coelhos, hamsters, porquinhos-da-índia e todo o tipo de animal doméstico que possa olhar como potencial presa.
— O dono deve impor-se como líder, para evitar comportamentos possessivos ou agressivos, como sejam guardar objectos como sendo seus e em que ninguém pode tocar.
— É pouco tolerante ao frio, pelo que não deve viver no exterior. Estes são pequenos nadas, perante a possibilidade de conviver com este cão fascinante. No que à limpeza diz respeito, são auto-suficientes, tratando da sua higiene habilmente. Talvez por isso não tenham o cheiro típico dos cães. Animais usados na caça e que se molhem frequentemente, ficam com o cheiro mais activo, mas, ainda assim, é muito ligeiro e nada que não passe com um bom banho. Aliás, são doidos por água e caso haja uma piscina por perto, difícil será mantê-lo fora dela. O mesmo se passa com a cama dos donos, quando lhe é permitido lá dormir. O que revela a sua necessidade de estar sempre perto dos donos. Um pêlo fácil de tratar e com mudas pouco frequentes facilita a sua vivência entre portas. É uma raça saudável que pode chegar aos 14 anos.