Gentle giant (literalmente gigante gentil) é uma bastante comum expressão inglesa, para descrever pessoas e animais muito grandes, mas com coração de ouro. Pessoas e animais que devido à estatura ou porte assustam os demais, quando, na verdade, são seres gentis e afectuosos. Mais ou menos como acontece no filme Shrek. Pois bem, o Terra Nova é um desses exemplos, mas ao qual acresce uma enorme beleza física.

 

Origem

    No que à origem diz respeito, apenas uma verdade: o Terra Nova é oriundo do Canadá. Tudo o resto são conjecturas mais ou menos fundamentadas que visam esclarecer o aparecimento de tão gigante e possante cão preto na Terra Nova , região do Canadá. De entre essas, três teorias se impõem com maior frequência. Uma delas associa os primórdios da raça às viagens do povo Vicking, navegadores nórdicos que se faziam acompanhar de cães que terão levado para aquelas paragens, em 1000 DC, os quais terão, depois, procriado com lobos locais. Uma outra crê que o Terra Nova não é mais do que uma evolução do lobo preto norte-americano, entretanto extinto, ou mesmo de Mastins Tibetanos que terão chegado da Ásia a esta província canadiana vindos do norte do continente americano. Uma última aproxima no tempo o surgimento da raça, apresentando-a como fruto do cruzamento de cães dos exploradores europeus já nos séculos XIV e XVI, altura das descobertas. De acordo com esta teoria, Cães de Água portugueses, Cães Pastor dos Pininéus e Mastins terão estado na origem desta nova raça gigante.

 

Assemelha-se em tudo aos grandes mastins de montanha, mas é um herói do mar

 

História

    A história do Terra Nova está ligada ao Homem e ao trabalho. Devido  à sua força, bondade inata e ao meio piscatório daquela ilha canadiana, o Terra Nova esteve sempre vocacionado para as lides do mar: puxar redes, carregar fardos e resgatar homens e barcos do mar em difíceis operações de salvamento, nas quais ainda hoje é utilizado. Nadador vigoroso, ele leva cabos a pessoas e navios em risco de naufragarem. Em terra, os agricultores utilizavam-nos na distribuição de leite e até nos correios, como mensageiro de primeira linha do correio real, o Terra Nova foi utilizado. E com mérito, tendo mesmo visto o seu trabalho recompensado ao ver o seu rosto representado num selo postal, datado de 1894. Apesar deste enorme valor utilitário, a raça apenas seria baptizada, ou entendida enquanto raça, já na segunda metade do séc. XVIII quando, em 1775, George Cartwright chamou Terra Nova ao seu cão. A raça sofreria um grande revés ainda antes do término desse mesmo século, quando um governador, Edwards, impôs por decreto o limite máximo de um cão por propriedade, uma medida que tinha como propósito fomentar o pastoreio. No final, o único resultado visível foi o decréscimo da população de cães Terra Nova, ao ponto calamitoso da sua quase extinção. Felizmente, neste caso, homens houve que ignoraram as leis, por ser maior o seu apreço pela raça. Graças a eles o Terra Nova vingou. Seguiram-se os concursos, datando de 1860 o primeiro registo de um Terra Nova e de 1883 a primeira vitória de um cão desta raça num campeonato norte-americano. Sam, era o nome da vedeta. Houve ainda tempo para notícias de jornal, já que Scannon, um Terra Nova, terá acompanhado os exploradores Lewis e Clark numa expedição ao Pacífico. A exportação da raça para Inglaterra no início do séc. XX, onde conheceu o êxito imediato, representou um marco decisivo na internacionalização e admiração mundiais pela raça.

O que hoje se pode afirmar, com alguma segurança, é que quase todos os actuais Terra Nova têm como descendente comum Siki, um cão inglês que viveu na década de 20 do século passado e que encantou em muitos concursos, visto ser uma espécie de mostruário de todo o potencial e beleza da raça. Só quando Siki e três dos seus filhos, todos eles linhagens de primeira, foram importados para os Estados Unidos da América e, aí, cruzados com exemplares locais de Terra nova, é que verdadeiramente nasceu a tipologia da raça que hoje conhecemos como Terra Nova.

    O que em nada mudou foi a sua vocação para o trabalho humanitário, sendo utilizado pela federação nacional francesa de cães de salvamento, sendo ainda um dos talentos da escola francesa de treino e salvamento em caso de desastre. Também no Canadá e nos Estados Unidos da América desempenha o papel principal em acções de ajuda em caso de avalanchas. Procura e salvamento são habilidades que desempenha ainda na Nova Zelândia. Por serem fortes, dedicados e muito capazes podem aliviar o fardo dos humanos, tanto puxandolhes um trenó, ou integrando equipas de ajuda terapêutica em vários centros de reabilitação.

 

O Terra Nova está vocacionado para operações de salvamento no mar

 

Morfologia

    Esta raça será, por ventura, uma das que mais facilmente se descreve: é um cão enorme, de pêlo comprido e de cor preta e ar bonacheirão. Mas não é tudo. O seu apreço pela água traduz-se em características físicas como sejam a pelagem impermeável e as membranas natatórias interdigitais. Com o peso a situar-se entre os 60/70 quilos, nos machos, e entre os 45/50, nas fêmeas, o Terra Nova pertence às raças gigantes. A raça é geralmente preta, mas também o bronze e a variante preto e branco são igualmente representativas. Esta última ganhou mesmo a designação de Landseer, nome de Sir Edwin Landseer que em muitos dos seus quadros retratou a raça nesta variante de cor. Cabeça preta com o corpo branco malhado de preto. Um olhar menos atento pode mesmo chegar a confundir um Terra Nova Landseer com um Mastim dos Pirinéus. Alguns adeptos consideram esta variante uma raça por si só.

Tendo estado perto da extinção no séc. XVIII, ganhou fama internacional no séc. XIX

 

Temperamento

    Na própria descrição da raça feita pelo American Kennel Club vem referido o seu principal traço de carácter: doçura de temperamento. O mesmo que o torna tão adequado e paciente com as crianças e fazem dele um protector com alma de guardião. Esta docilidade contrasta com o seu porte e força, tornando-o ainda mais adorável. No trabalho, é incansável e um nadador nato com habilidades e resistência física dentro de água verdadeiramente incríveis. É também um cão destemido. Pode contar com ele nas horas de aflição, mas não é menos verdade que é um amigo companheiro, fiel e dedicado também nas horas de bonança.

 

Prós e contras

    É por demais óbvio que esta não é uma raça indicada para apartamentos, devido ao seu tamanho gigante. O animal não seria tão feliz quanto numa casa com quintal ou jardim, nem você tiraria tanto partido da sua amizade. Um outro pormenor, nem sempre referido, é que a raça tende a babar-se, o que, mais uma vez, não constitui problema se o animal viver numa casa à sua medida. Pacífico e companheiro, o Terra Nova, mais do que um cão é uma verdadeira experiência de vida.