10 Animais que em breve podem ficar extintos no Brasil

08-12-2011 12:23

 

   Você sabia que o Brasil abriga 13% de todas as espécies já descritas pela ciência? E que aproximadamente 40% das florestas tropicais do mundo estão no Brasil? E você sabia que mais de 600 animais estão a ser ameaçados de extinção no país? Esses são dados do Ministério do Meio Ambiente que mostram o lado obscuro da vasta biodiversidade brasileira.

   A Lista Vermelha brasileira registra 627 espécies que podem deixar de existir nos próximos anos. São 394 animais terrestres e 233 aquáticos. Todas as informações estão reunidas no Livro Vermelho, elaborado pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio), segundo o qual, 64% dos animais em extinção estão na Mata Atlântica – resultado da ocupação territorial pela população humana e poluição de rios e oceanos.

   O que é ruim pode ficar pior: algumas espécies ainda ganham o carimbo Ameaçado de Extinção ao lado de seus nomes. No total, são 125 nesta situação.

 

Conheça agora 10 dos animais que estão criticamente em perigo e algumas medidas que podem evitar sua extinção nos próximos anos:

1-Cuíca-de-colete (Caluromysiops irrupta)

   A cuíca-de-colete pode morrer pela “preguiça”. Com movimentos lentos e passando 70% do seu tempo em descanso, este mamífero tem sido alvo fácil para caças tornando-se uma das  espécies ameaçadas de extinção no Brasil.

   O animal vive no norte dos Estados do Maranhão e Ceará e alimenta-se basicamente de frutas. Os machos são negros, com as extremidades dos membros, cauda e parte do dorso em tom ruivo e a lateral com pelos dourados. Já a coloração das fêmeas é, na maioria das vezes, pardo-amarelada, com uma tonalidade olivácea.

 

  •  O que pode ser feito

   Os biólogos salientam a importância da localização das restantes populações da espécie, assim como a avaliação sobre a situação de ameaça em cada localidade. A fiscalização contra a caça é a principal estratégia de acção para a maioria das localidades, especialmente ao longo da serra da Ibiapaba.

   Em áreas muito fragmentadas, como as últimas matas do vale do rio Longá, a criação de um conjunto de Unidades de Conservação é necessária para uma acção mais efectiva contra a caça, envolvendo principalmente as áreas de mata das quintas desapropriadas para a reorganização rural, tanto pelo governo federal quanto pelo estadual. Os biólogos afirmam que as populações que habitam na Área de    Protecção Ambiental da Foz do Rio Parnaíba e a Reserva Extractivista da Foz do Rio Parnaíba já estão protegidas.

 

2-Baleia-azul (Balaenoptera musculus)

   Com o título de maior animal do planeta, a baleia-azul pode desaparecer do Brasil justamente pelo seu tamanho. Estes mamíferos medem entre 25 m e 30 m – sendo as fêmeas maiores e mais pesadas do que os machos. Todo este tamanho proporcionava um alto rendimento à actividade comercial baleeira até os anos 60, quando passou a ser protegida pela Comissão Internacional Baleeira.

   Apesar da baleia não ser capturada nos dias de hoje, segundo os biólogos, do Laboratório de Mamíferos Marinhos da Universidade Federal do Rio Grande, e os biólogos, do grupo de estudos de mamíferos aquáticos do Rio Grande do Sul, a grande caça do passado é a principal responsável pela sua extinção. Eles ressaltam que só nos anos de 1930 e 1931, mais de 30 mil exemplares foram caçados no mundo. Além disso, as capturas acidentais em equipamentos de pesca, colisão com embarcações e degradação do habitat (poluição química e sonora) são outros factores que representam risco para este mamífero.

   Os biólogos afirmam que o animal migra sazonalmente para regiões polares ou subpolares, onde se alimenta no verão e início do outono, indo para os trópicos e subtrópicos para a reprodução no inverno e na primavera. No Hemisfério Sul, a localização precisa das áreas reprodutivas da espécie é ainda desconhecida. Mas já houve registos do seu aparecimento no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e na Paraíba, onde dois exemplares foram capturados comercialmente.

 

  • O que pode ser feito

   Os biólogos salientam que, por se tratar de uma espécie migratória, sua conservação depende de acordos e esforços de protecção nacionais e internacionais. Entre elas, pode-se destacar a necessidade de avaliar, em nível global, o número de capturas acidentais em actividades pesqueiras; actividades sísmicas e extractivistas (gás natural e petróleo); colisões com embarcações; degradação do habitat; estimativas de critérios reprodutivos e taxas de crescimento populacional e determinação de rotas migratórias e áreas de concentração.

 

3-Mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus)

   O mico-leão-preto vive na Mata Atlântica e, em breve, pode desaparecer. Esta espécie de macaco está ameaçada devido à alteração do seu habitat natural, principalmente por desflorestação. Os biólogos, do Instituto de Pesquisas Ecológicas, afirmam que a maior população da espécie ocorre no Morro do Diabo. Esta Unidade de Conservação, gerenciada pelo Instituto Florestal de São Paulo, abriga cerca de mil exemplares, que vivem em 37 mil hectares de floresta.

   De acordo com os biólogos, este mamífero é considerado um fauna-frugívoro (que se alimenta de frutas), mas tem uma dieta influenciada pela sazonalidade de seu ambiente, que apresenta estações bem marcadas, utilizando os recursos alimentares de acordo com sua disponibilidade. São excelentes predadores, capturando aves e pequenos vertebrados. Com peso de cerca de 600g e atingindo a maturidade aos 18 meses de vida, o mico-leão-preto tem um período de gestação de cerca de 125 dias. Além disso, o género é considerado monógamo, e a reprodução ocorre sazonalmente.

 

  • O que está a ser feito

Um programa de conservação da espécie, chamado de Programa Integrado de Conservação do Mico-Leão-Preto, que inclui a criação de uma população em cativeiro, além do manejo genético e demográfico. As principais soluções para a espécie concentram-se em três tópicos básicos: a necessidade de manejar as pequenas populações isoladas como uma só, a fim de garantir a sua sobrevivência; a expansão e criação de áreas protegidas para as espécies e melhor gerenciamento das já existentes; e o estabelecimento de programas com as comunidades locais, visando a melhoria da qualidade de vida e acções de desenvolvimento sustentável.

 

 

4 – Bugio-marrom (Alouatta guariba guariba)

   Pense duas vezes antes de comprar um animal exótico para colocar de enfeite na sua casa. A fragmentação da Mata Atlântica, o desflorestamento de grandes porções da cobertura vegetal nativa e, principalmente, o comércio ilegal do animal, que é vendido como animal de estimação, podem resultar no desaparecimento do primata bugio-marrom da Mata Atlântica.

   Um biólogo da Universidade Federal de Minas Gerais, explica que a dieta deste mamífero é basicamente florívora, que se alimenta de folhas. Além disso, ele salienta que sua principal característica é o facto de as populações viverem em grupos de três a oito indivíduos.    Este biólogo afirma que a caça ilegal e os incêndios florestais, comuns na Mata Atlântica, têm resultado no desaparecimento do animal.

 

  • O que pode ser feito

   De acordo com o biólogo, as principais propostas para estratégias de conservação são estudos para o levantamento de possíveis populações remanescentes, principalmente no leste de Minas Gerais, vale do médio e baixo rio Jequitinhonha e centro-sul da Bahia. Com isso, deve ocorrer o desenvolvimento de um programa de criação em cativeiro, com cruzamento de indivíduos procedentes de localidades diferentes da área para aumentar a variabilidade genética.

 

 

5 – Rato-do-mato (Wilfredomys oenax)

   Rato que não come queijo e nem vive escondido nas paredes da sua casa. Já o viu? O Wilfredomys oenax é uma espécie encontrada em São Lourenço, no Paraná e em São Paulo. Um biólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirma que este animal alimenta-se somente de vegetais, folhas e frutos, e ainda mora na floresta. Grande roedor, este mamífero pode desaparecer nos próximos anos.

   Mede cerca de 11 cm, com mais 2,5 cm de cauda, e pesa cerca de 1 kg, esta espécie está ameaçada principalmente por desflorestação e destruição de seu habitat. O biólogo afirma que ainda faltam mais estudos sobre este animal para que ele possa ser protegido de forma rápida. Apesar de uma fêmea dar a luz até 10 ninhadas por ano, a possibilidade de extinção ainda é alta.

 

  • O que está a ser feito

   Novos exemplares devem ser recolhidos para estudos citogenéticos e moleculares que permitam compreender melhor a espécie. O biólogo afirma que a única informação ecológica é a sua ocorrência em florestas e um esforço deve ser feito nas poucas matas restantes para que se possa compreender melhor a biologia do animal. Segundo ele, no Uruguai um esforço de recolher cerca de 4,4 mil armadilhas por noite resultou na captura de somente quatro exemplares. “Talvez um esforço maior de recolha permita a obtenção de mais exemplares e de estimativas de densidades populacionais. Só com essas informações uma estratégia concreta de conservação é possível”, diz.

 

 

6 – Lambari Hyphessobrycon taurocephalus

   Ou esta espécie de peixe lambari já está extinta ou ela é muito tímida e anda-se a esconder nas águas do rio Iguaçu. Esta é a principal dúvida dos biólogos, que hoje se debruçam para encontrar e estudar a espécie em águas brasileiras. Este peixe é omnívoro e seu tamanho médio é entre 10 e 15 cm de comprimento. O corpo é prateado, e as cores das barbatanas variam, sendo mais comuns os tons de amarelo, vermelho e preto.

   De acordo com os biólogos do Museu de História Natural Capão da Imbuía, apesar do considerável esforço para conseguir amostras, nos últimos anos na bacia do rio Iguaçu, a espécie não foi reencontrada. Contudo, ainda restam muitas localidades na bacia do rio  serem adequadamente pesquisadas. Por conta disso, esta espécie tanto pode estar já extinta, como pode ocorrer em habitat muito específico.

   A construção de barragens é um dos principais problemas enfrentados no rio Iguaçu, uma vez que resulta na perda de habitats. Além disso, as construções resultam em cursos de água menores que são prejudicais à espécie em função de volume reduzido de água e maior interface com o meio terrestre.

 

  • O que está a ser feito

   Segundo os biólogos, actualmente os esforços são voltados para estudos sobre o conhecimento de aspectos biológicos e de distribuição actual da espécie, tendo em vista a incerteza quanto à sua real área de ocorrência.

 

 

7 – Cação-bico-doce (Galeorhinus galeus)

   Caracterizado pelo pequeno tamanho da segunda barbatana dorsal (bem menor que a primeira e semelhante ao da barbatana anal) e pelos dentes fortemente serrilhados, este peixe vive na costa sudeste-sul do país e corre risco de extinção devido à pesca.

   As biólogas, da Universidade Federal do Rio Grande e da Universidade Federal Rural de Pernambuco, explicam que o cação-bico-doce tem um ciclo de vida longo, podendo chegar até os 33 anos de idade. Atingindo o comprimento máximo de 175 cm (machos) e 195 cm (fêmeas), esta espécie apresenta uma longa história de exploração em diversos países, para aproveitamento da carne e do óleo. No Atlântico Sul  Ocidental, existe uma população regional distribuída desde o Rio Grande do Sul até a costa norte da Patagónia. A população migra para a   Plataforma Sul no inverno, quando é alvo da pesca industrial com redes de arrasto e de emalhe.

  • O que está a ser feito

   As biólogas afirmam que actualmente não há medidas de conservação ou manejo estabelecidas no Brasil. Mas a proibição da captura do cação-bico-doce é recomendada em nível regional, envolvendo o Brasil, Uruguai e a Argentina.

 

 

8 – Borboleta Actinote zikani
   O Brasil pode ficar menos colorido caso se confirmem os riscos de extinção das borboletas. Este insecto é o que mais possui espécies ameaçadas do Livro Vermelho. Ao todo são 20 tipos de borboletas, todas sem nome popular específico. Uma delas é a Actinote zikani.

   De acordo com os biólogos da Universidade Estadual de Campinas, a Actinote zikani é uma espécie bastante ligada a áreas de topo. No Brasil, ela habita uma área estreita da Serra do Mar, entre o alto da serra de Cubatão e Salesópolis. Com as asas em tom de preto e amarelo queimado, esta borboleta deve desaparecer nos próximos anos por causa da poluição.

   Os biólogos afirmam que a degradação do habitat é o principal problema, sendo a poluição do Parque Industrial de Cubatão, o maior deles, já que pode ter sido o responsável pelo desaparecimento da colónia desta borboleta do Alto da Serra paulista.

  • O que está a ser feito

   Os biólogos afirmam que actualmente ocorre uma manutenção de toda a área daa floresta para garantir um habitat favorável à espécie na Serra do Mar, em São Paulo.

 

 

9 – Arara-azul-de-Lear (Anodorhynchus leari)
   A plumagem da cabeça e do pescoço é azul-esverdeada, o anel peri oftálmico (região da cabeça) é amarelo e o resto do corpo é azul. Com as cores da bandeira do Brasil, a arara-azul-de-Lear corre o risco de desaparecer do nordeste da Bahia, onde habita. O motivo? A captura para comércio ilegal.

   De acordo com uma bióloga da Coordenação de Protecção de Espécies da Fauna do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, a espécie foi descoberta na natureza apenas em 1978, no nordeste da Bahia, ao sul do Raso da Catarina, onde vive até hoje. Estimativas actuais indicam que a população é de aproximadamente 500 exemplares. A principal ameaça à espécie é a captura para o comércio ilegal, que tem sido muito frequente, principalmente pela ausência de acções de fiscalização regulares.

   Há ainda outra razão para seu possível desaparecimento. O principal alimento da arara-azul-de-Lear é o coco da palmeira licuri (Syagrus coronata), que está escasso. A falta deste alimento é um dos motivos de sua possível extinção, já que se estima um consumo diário de 350 cocos por arara adulta. O que ocorre é que há pouca regeneração da palmeira do licuri, principalmente por causa dos incêndios e da desflorestação para a plantação de roças. A diminuição na quantidade de licuri disponível faz com que as araras procurem alimento em plantações de milho, onde acabam por ser alvejadas pelos produtores.

  • O que está a ser feito

   Instituições como o Instituto Chico Mendes realizam acções de protecção, como o fortalecimento da legislação vigente de protecção da fauna, em especial aquela referente à protecção da espécie e seu habitat. Entre elas, incentivo a práticas agrícolas eficazes e de baixo impacto ambiental, ampliação da extensão de áreas protegidas dentro da área de ocorrência da espécie, fiscalização efectiva, pesquisa biológica, incluindo manejo de ninhos, procura-se por novas populações, monitoramento do status populacional, mapeamento, monitoramento e manejo das áreas de alimentação. Além disso, estão a ser desenvolvidas acções como o estabelecimento de novos centros de reprodução em cativeiro, que conta actualmente com 39 exemplares dispersos pelo Brasil, Qatar e Inglaterra. A estratégia do programa é aumentar a população desta ave em laboratórios.

 

 

10 – Pato mergulhão (Mergus octosetaceus)
    Esta ave é uma das mais ameaçadas de extinção em toda região neotropical graças à  interferência do homem em seu habitat. Já extinta na Argentina e Paraguai, o Mergus octosetaceus ainda existe no Brasil, mas somente em quatro Estados: Paraná, Minas Gerais, Goiás e Tocantins. Estima-se que existam menos de 250 aves no País.

    De acordo com um biólogo da Universidade de São Paulo, o pato-mergulhão é o único representante da Tribo Mergini em que o macho auxilia no cuidado com os filhotes. Alimenta-se principalmente de peixes, que pesca com o auxílio de seu bico serrilhado, em mergulhos feitos principalmente nos remansos. Este biólogo salienta que esta é uma espécie altamente exigente com relação à qualidade de seu habitat, necessitando de águas límpidas e não tolerando bem a presença humana. Segundo ele, este é o principal motivo que ameaça a vida destas aves: não existe mais um habitat totalmente limpo.

   O biólogo explica que as actividades de mineração, drenagem e agricultura foram desastrosas para a espécie. A construção de barragens, que altera todo o regime hidrológico dos rios, tem efeitos drásticos sobre estes animais, que não vive em lagos ou outros ambientes lênticos, onde a massa de água apresenta-se parada, sem corrente. Isto foi o golpe final nas populações argentinas e paraguaias, e tal situação pode repetir-se no Brasil, especialmente nas populações que ainda sobrevivem nas bacias dos rios Tocantins e Paraná.

  • O que está a ser feito

   Apesar da sua raridade, só recentemente o pato-mergulhão foi objecto de iniciativas mais sérias com vistas à sua conservação. O Instituto Terra Brasilis conduz, desde 2001, um programa de pesquisas e educação ambiental na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, onde vivem cerca de 40 casais da espécie. As principais estratégias para a conservação desta ave referem-se à procura por novas populações e pesquisas sobre a sua história. São também importantes a criação de áreas protegidas nos locais onde a espécie ocorre, especialmente nos estados da Bahia e Tocantins. A ampliação dos limites do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e a retomada dos limites do Parque Nacional da Serra da Canastra também são medidas importantes para a conservação desta espécie.

 

 

 

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