Gigante no porte, na coragem e valentia, o Mastim Napolitano é o tipo de cão para quem pode e não para quem quer. O seu tamanho e uma gula condizente exigem espaço e alguma dedicação. Mas se pertence àqueles que, por ter espaço e precisar de um guardião, o pode ter, então, não hesite.
Origem
O seu nome já diz muito, senão tudo, sobre a origem desta raça que pediu de empréstimo o nome da cidade italiana de Nápoles. Mas nem tudo é sempre o que parece, pelo que, há mais a ser dito. Há, de facto quem defenda que este cão gigante terá tido origem nos molossos de Roma, que pelo tamanho, porte e espírito de guardião, eram usados como soldados pelos exércitos romanos, sempre em constantes lutas que visavam o alargamento do seu império. Mas outras origens lhe são atribuídas. Uma delas remete-o para a Grécia, de onde o imperador romano Alexandre, O Grande, teria trazido estes cães grandes. Uma outra corrente, com menos adeptos, enraíza a casa mãe desta raça no Tibete, de onde são originários muitos cães com características idênticas, e que teriam, depois, chegado à zona do Mediterrâneo, há muitos milénios, trazidos pelos fenícios. Os estudos mais persistentes acreditam que a sua origem é europeia, resultando do cruzamento dos grandes cães romanos com os ingleses Pugnaces Britannie. O que parece não suscitar tanta controvérsia quanto a sua ascendência, é a sua descendência, sendo tido como certo que o Mastim Napolitano deu, ele próprio, origem a outras variedades de molosso, caso do bonacheirão S. Bernardo, ou do mais temperamental Rottweiler. O que pode e deve constar dos registos é que é descendente directo de outros molossóides do tipo dogue que remontam à época do Império Romano, não admirando, portanto, que tivesse sido difundido um pouco por toda a Europa, até porque acompanhava as legiões romanas, ombreando os legionários em combate, o que lhe valeu o epíteto de bom guardião e citações várias nos escritos de muitos autores da Roma antiga.
Este soberbo cão lutou lado a lado com os legionários romanos
História
O nome Mastim Napolitano surgiu apenas em 1947, no período pósguerra, por ter sido na cidade costeira de Nápoles que a raça se fixaria durante séculos. A sua antiguidade de pouco lhe valeu nos anos difíceis da Segunda Grande Guerra, altura onde faltava tempo e disponibilidade para dar continuidade à raça e, acima de tudo, altura em que escasseavam os alimentos para aconchegar o gigante estômago deste Mastim, cuja dose diária de ração ronda os 2,500 quilos. Mas ele sobreviveria e, em 1949, a raça foi reconhecida oficialmente em Itália pelo Ente Nazionale Cinofilo Italiano. Um desfecho que muito se deveu ao escritor Piero Scanziani e ao seu trabalho de selecção da raça. O apreço pelo Mastim Napolitano sempre se deveu ao seu majestoso, quase assustador porte, com o qual se pretendia que intimidasse os intrusos à luz do dia e os atacasse pela calada da noite. Daí que sempre se desejou que a raça ostentasse o preto na cor da sua pelagem, a fim de não ser visto durante a noite e, assim, melhor exercesse a sua função de cão de guarda. Mas esta, bem como as restantes características apenas seriam fixadas em 1971, com o registo do seu estalão.
Morfologia
Grande. Este o adjectivo que melhor caracteriza o Mastim Napolitano, a começar pela cabeça, de crânio largo e forma arredondada, e fortes maxilares de mandíbulas robustas e lábios de pele grossa e pesada. Nele, tudo parece em excesso, até a pele, que lhe sobra em todo o corpo, o que se torna mais visível no focinho e na barbela (traço muito apreciado nesta raça), onde abundam as pregas e rugas que tornam óbvia a atração gravitacional. Tudo pende. Daí o enganador ar tristonho, em alguns exemplares, fruto ainda dos seus olhos ligeiramente profundos e afastados entre si. O único traço físico que parece não acompanhar a generosidade das restantes proporções são as orelhas, triangulares e pequenas. No auge do seu porte, o que ocorre por volta dos três anos, o Mastim Napolitano ronda os 85 quilos, havendo registos vindos de algumas zonas de Itália, de indivíduos com 100 quilos. É muito quilo, pode dizer-se, mesmo para um cão com 77 centímetros de altura até à cernelha e bem entroncado. Curiosamente, sendo este um traço distintivo da raça, caminha de forma lenta e indolente, semelhante a um urso, talvez porque nada tem a recear. O que já é mais compreensível, tendo em conta o seu tamanho e peso, é que não é dado a corridas. Ainda hoje se mantém o apreço pela pelagem escura, que vai do preto ao cinza, passando pela cor de chumbo e abrangendo ainda o fulvo, fulvo avermelhado e cor de avelã. Manchas brancas não são bem vindas, sendo apenas toleradas no ante peito ou na ponta dos dedos. O pêlo é curto e recto, denso, firme, fino e liso, características que se mantêm uniformes em todo o corpo.
Há registo de exemplares, em Itália, que rondam os 100 quilos
Temperamento
O seu temperamento não foge muito aos observados em animais de grande porte: é um animal seguro, confiante, tranquilo e corajoso, absolutamente indicado para as funções de guarda, para a qual apenas o seu aspecto já funciona como desencorajante a qualquer avanço. Características que devem ser controladas pelo dono desde logo, pois não vai querer este intimidador cão a controlar os seus passos. Porém, o Mastim Napolitano tem a grande vantagem de ser um cão equilibrado, controlado e obediente. Ainda assim, a sua tolerância na presença de outros cães é baixa, subindo para um razoável médio perante crianças e outros animais. Jogue pelo seguro, sabendo, no entanto, que pode sempre, mas sempre, contar com ele na adversidade, sendo um dedicado guardião de pessoas e bens. Se o seu propósito é a segurança, sinta-se seguro na presença deste amigo, ainda mais precioso em caso de invasão de propriedade.
Prós e contras
O que funciona como atractivo primeiro, o seu magnífico e tranquilo porte, é obviamente uma desvantagem para quem não dispõe de quintal ou jardim, sendo que o ideal seria mesmo um amplo espaço de terreno, onde ele possa circular sem grandes entraves e se possa exercitar. Mastins Napolitanos sedentários acabam gordos e deformados. Não é um cão de apartamento, e não vale a pena forçar a coisa. Nem ele se sentiria feliz em espaços exíguos, nem o dono conseguiria ter uma pequena casa à prova dos seus embates ocasionais em tudo quanto é móvel. Guloso por natureza, ele tende à obesidade, sendo necessária muita atenção à sua dieta. Mas esta não pode ser frugal, afinal, atente-se na sua constituição física para perceber que come muito e bem, uma média diária que ronda os dois quilos e meio. A ração deve ser dada várias vezes ao dia, para evitar torção gástrica, não raras vezes associada a esta raça. O pêlo, devido às suas pregas deve ser escovado uma vez por semana e manter-se bem limpo e sempre seco, a fim de evitar problemas de pele. Os olhos também exigem uma boa limpeza. Posto isto, basta muito respeito e alguma autoridade da parte do dono, para que possa desfrutar das alegrias de ter um cão grande, com maneirismos sempre tão patuscos. Uma grande vantagem é o facto de ser um cão silencioso, que pouco ladra.